sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

talvez, às vezes, seja mesmo assim. ou não.


Às vezes acho que é assim. Que carregamos o mundo às costas, tal e qual como a mochila que levamos para a escola. Só que levamos o mundo para a vida, que é a melhor das escolas. É, às vezes acho que é assim. Que a felicidade depende da carga que levamos na mochila, do peso que o mundo tem a cada despertar de um novo dia. A felicidade é leve, dá-nos liberdade de correr para e com ela, sem nada que nos atrase no caminho ou nos puxe para trás. Outras vezes há em que o peso do mundo é tal que nos faz vergar e põe-nos de olhos postos no chão, como quando temos a mochila a rebentar pelas costuras, cheia de livros e cadernos por causa do horário preenchidíssimo. E aí sim, às vezes acho que é assim. Que o que difere os dias bons e felizes dos maus e cabisbaixos não é a força que temos nas costas nem mesmo a tolerância à dor, mas sim a nossa predisposição para carregar o peso do mundo. É lembrarmo-nos que podemos pedir a um amigo que o carregue por nós um bocadinho, ou que não faz mal pousar o mundo no chão por uns minutos desde que lhe tomemos olho, porque ele não vai a lado nenhum - nem mesmo aqueles que viam o mundo plano lhe desenhavam pernas. Às vezes acho mesmo que é assim. Que nem sempre há necessidade de carregar tanto peso às costas, porque uma das disciplinas que vamos ter até nem precisa de um caderno de argolas e capa dura.
É isso, às vezes acho que é assim. Que o mundo é uma mochila da Eastpak, daquelas que têm uma garantia de 30 anos, mas que podem durar uma vida inteira.  

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Somos mesmo.

- We are legendary!


E às vezes, só às vezes, gostava que eles soubessem o quanto.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Este senhor soube tanto (I)


Deveria isto bastar, dizer de alguém como se chama e esperar o resto da vida para saber quem é, se alguma vez o saberemos, pois ser não é ter sido, ter sido não é será, (...).

José Saramago, in Memorial do Convento

sábado, 4 de dezembro de 2010

sangraste-me

                Tinhamos tudo para dar certo. Espero que saibas disso. Respeito, confiança, lealdade. Tínhamos tudo, excepto esse grande cabrão que é o timing. Tudo na vida é uma questão de timing: do alimento um dia fora do prazo de validade ao artista fracassado cujas obras-primas eram avançadas demais para a sua época. Como eles, essa grande obra-prima que era o amor entre nós floresceu no tempo errado. Compreende: não foi por ignorância em relação a esse sentimento que nos matou os dias conjuntos. Sabíamos, até, demais para o que era suposto. Só não sabia(mos) o que fazer com ele.
                Percebe, então, que o meu coração ficou pequeno demais para tanto amor - tanto que me transbordaste. O meu sangue respirava-te e no entanto precisava de outros oxigénios que o permitissem revestir o coração e prepará-lo para ti. Necessitava de outras andanças, de perder para ganhar, cair para me afirmar. Mas tu entraste-me de rompante, como quando abrimos a porta e a brisa bate-nos de chapa na cara dos sentidos sem hipótese de nos protegermos, e eu não pude simplesmente esperar que te enfiasses num casulo e te transformasses em borboleta apenas quando o meu estômago estivesse preparado. Porque tal como o Vah Gogh não pôde ressuscitar para presenciar a venda dos seus quadros, também nós não pudemos voltar a semear um amor que em tempos nasceu espontâneo em terras pouco adubadas.
               
                Restam-me duas palavras para ti. Desculpa. E obrigada. Desculpa por em algum momento não te ter achado bom o suficiente, perdoa-me o coração por ter querido mudar de dono, ou simplesmente capitanear sozinho. Eu já me perdoei. Obrigada porque me mostraste o amor, porque o meu coração cresceu sedento de um Homem como tu, assim mesmo com H grande. E agora que o encontrei, e que não és tu, espero que saibas que tínhamos tudo para dar certo. E que nem sempre isso é suficiente…

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

um nada vazio de ti.


Pai, 
         Só não te perdoo o quase teres-me feito odiar abraços. O resto é ausência… Vazio. Um nada.

sábado, 2 de outubro de 2010

#30 letter to your reflection in the mirror

        Olho-te e nem sempre te reconheço. Há dias em que gosto do que vejo – em que me transmites confiança e vaidade e fazes-me pensar, quase acreditar, que te amo. Outros dias há que não sei se és mesmo tu que lá estás, ou uma imagem à minha semelhança que invento para enganar o espaço e o tempo. Nesses dias assemelhas-te a uma imagem esbatida num espelho embaciado, depois de um banho quente que me enrugou a pele e a alma.
        Não sei se é mesmo como dizem, e se desse lado do espelho o mundo é mais belo e mais farto de vida. Se assim for, só te peço que me estendas a mão, num desses dias em que te olho e não te reconheço, e que me mostres o amor-próprio. Depois podes voltar a empurrar-me para este lado (que é afinal o único e mais real que consigo alcançar), que eu deixo.
        E na derradeira vez que te contemplar, nesse exacto momento que precede o do espelho se partir para sempre, espero poder olhar-te e ver-me, ver-te enquanto me olho. Até lá, só desejo que a cada vez que te observar ame um pouco mais a imagem que se me afigura transfigurada diante dos meus olhos, pois será sinal que não paralisaste no tempo e estás a construir-me dentro de ti, aos poucos, a cada dia que passa.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Descobertas interiores

Estou a dar Fernando Pessoa em português 12º ano. Para já, estamos no ortónimo e ainda não chegamos aos heterónimos, mas não é que descobri que estou mesmo a gostar de Fernando Pessoa?! E o facto de ser a única da minha turma deixa-me um pouco desconfiada (Am I a freak?!). A verdade é que não acho uma beleza anormal nos seus poemas, o que realmente me prende a atenção é aquilo que ele pretende transmitir com esses mesmos poemas. 

Atrai-me a maneira d'ele pensar, e que tanta dor lhe provocava, e a forma como ele põe em evidência esse contraste entre os sentimentos e a razão. Quando racionalizamos os sentimentos, começamos a ser infelizes e talvez seja aqui que reside a chave para a verdadeira e plena felicidade: sentir com o coração, deixando de fora a razão!
Efectivamente, nunca conseguiremos, por mais que tentemos, explicar por palavras aquilo que verdadeiramente estamos a sentir - podemos tentar ao máximo uma aproximação, que nunca corresponderá à realidade total do sentimento por nós sentido! Como ele próprio afirma sob o heterónimo de Bernardo Soares: "(...) o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti." Identifico-me bastante com esta posição, uma vez que venho há muito tempo procurando inspiração para escrever sobre todo o remoinho de sentimentos que me estão a arrasar dentro do peito, e não tenho conseguido encontrar as palavras certas para tal - todas me parecem insuficientes, pequenas demais perante tão ferozes sentimentos - pelo que encontro no poeta uma explicação para o sucedido.

E pronto, é isto: identifico-me com Fernando Pessoa. Gosto e pronto. (You can kill me now)